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Seu corpo não responde mais às exigências que o trabalho impõe. Suas pernas já não conseguem mais levá-lo sobre pilhas de escombros ou matas fechadas, terrenos que perambulava com destreza. A visão também não é mais a mesma. Mas o olfato permanece aguçado.

Depois de uma vida inteira dedicada a salvar vidas, chegou a hora da merecida aposentadoria de Luck. O cão da raça labrador, de 15 anos de idade, atuou até cerca de um ano e meio atrás como membro do Grupo de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Sul.

No último fim de semana, Luck foi condecorado com uma medalha ao mérito em reconhecimento a todo o seu trabalho. O animal, pioneiro na atividade dentro do Corpo de Bombeiros gaúcho, se aposentou depois que uma doença degenerativa começou a impedir sua locomoção.

“Ele está fazendo jus à sua aposentadoria”, afirma seu adestrador, o sargento Gerson Meireles dos Santos, 44. “Está comigo, no meu sítio, só descansando, comendo ração da melhor qualidade e vendo televisão.”

Luck entrou para a corporação em 2003 pelas mãos do próprio Meireles. Adestrador mesmo antes de se tornar bombeiro, foi ele quem escolheu aquele filhote mais preto – e ativo – da ninhada para treinar e também quem o ensinou a encontrar pessoas perdidas e corpos.

 

Arquivo pessoal

O labrador Luck, 15, ganha medalha por mérito após se aposentar

O cão acabou estreando entre os bombeiros de uma forma inesperada. Um dia, Meireles levou seu pupilo para auxiliar na busca do corpo de um homem desaparecido em um morro de Porto Alegre. Luck mostrou que nasceu para aquilo: achou o desaparecido em poucos minutos, enterrado a dois metros de profundidade, e ganhou a simpatia do Comando do Grupo de Salvamentos. Desde então, o grupo de cães da corporação vem operando e ganhando cada vez mais prestígio.

Faro perfeito

“Com oito meses ele teve essa primeira ocorrência real e com muito êxito. Foi quando o comando viu que dava certo e que precisávamos de um serviço desses aqui no Estado.”

Dali em diante, foram mais de três dezenas de corpos encontrados e cinco pessoas desaparecidas achadas com vida. Foi vencedor, inclusive, junto a Meireles, de uma competição nacional de busca e resgate.

Em uma das operações, lembra Meireles, Luck encontrou um homem perdido na mata havia três dias. O cão precisou apenas de 40 minutos para fazer a localização. “Para nós, ele está acima da média”, comenta Meireles.

O sargento lembra com orgulho de uma atuação “perfeita” do amigo. “Há uns anos fomos chamados para trabalhar em um caso de ocultação de cadáver que já durava três anos. Fomos até a casa suspeita e o Luck indicou o banheiro. Tiramos o piso, quebramos mais cerca de 40 centímetros de concreto. Removemos terra, brita e, embaixo da fossa, tiramos ainda cerca de cem quilos de cal. Lá estava, a cerca de três metros e meio de profundidade, o corpo que procurávamos”, lembra Meireles.

Luck dedicou sua vida a salvar vidas. Não fosse o corpo enfraquecido pela idade, ele continuaria de prontidão no canil da corporação esperando um chamado. “Agora vamos dar um descanso merecido para esse cara que nos ajudou muito, entregando de volta entes queridos vivos para suas famílias, ou pelo menos para que os familiares pudessem dar um enterro digno para aquele familiar.”

Como legado, o labrador deixa a tradição do treinamento de cães de busca e salvamento em todo o Rio Grande do Sul e sua linhagem. Descendentes do cão seguem seus passos. Um deles, em especial, é o maior orgulho da família: Frank, seu filho, está no Rio de Janeiro para trabalhar na Olimpíada pela Força Nacional.

Enquanto o filho trabalha duro, Luck goza de sua aposentadoria junto ao dono. “Para mim ele é como um filho. Posso defini-lo como um anjo vestido de cão.”